Por Robert Archer*Enquanto fabricantes e entusiastas se animam com a tecnologia Ultra-HD, e provedores como Netflix e Amazon aumentam (ainda que de forma limitada) a oferta de conteúdos com essa resolução, o setor de televisão tem desafios mais complicados a enfrentar.
Com certeza, não apenas 4K mas também HDR (High Dynamic Range) e gama de cores expandida (ITU-R BT.2020) são prioridades; no entanto, como se sabe, a rede japonesa NHK já está demonstrando aplicações 8K, muito mais avançadas.
Recentemente, o blog da SMPTE (Society of Motion Picture and Television Engineers) publicou declarações de Andy Quested, diretor de HD e UHD para a BBC de Londres, que merecem ser analisadas. Segundo ele, a comunidade de televisão como um todo ainda terá de discutir muitos aspectos da tecnologia 4K antes que as transmissões desse tipo se tornem realidade.
Uma de suas justificativas é que, embora o mercado de consumo já esteja maduro com os TVs UHD; os fabricantes de câmeras 4K estejam aperfeiçoando consideravelmente seus produtos; e os provedores de internet criando mais oportunidades na distribuição de conteúdos por IP; ainda assim, nota-se a falta de serviços em UHD. E somente quando toda a cadeia estiver atendida é que essa inovação chamada 4K poderá ganhar corpo.
“É um grande risco investir hoje em 4K”, diz o executivo da BBC. “Por que alguém colocaria tanto dinheiro na produção de conteúdo e nas redes de distribuição, sendo que o benefício percebido pelo usuário é apenas um pouco melhor”? Baseado nas tendências atuais de mercado, Quested acha que a maior ênfase será dada na distribuição via streaming, e não por TV, com o surgimento de receptores do tipo set-top box compatíveis com os novos televisores. Com o tempo, diz ele, isso acabará ajudando a criar um ecosistema de TV 4K.
De acordo com a SMPTE, o primeiro passo nessa direção é a recomendação BT.2020 UHD-1 (2.160 pixels), da ITU (sigla em inglês da União Internacional de Telecomunicações), que dita as normas nessa área. A segunda fase seria um plano para implantação do padrão Super Hi-Vision, também chamado UHD-2 ou 8K (4.320 pixels). Mas Quested tem dúvidas: “Nem sabemos se algum dia haverá transmissões em 8K… as emissoras japonesas e coreanas não têm certeza disso.”
Ele admite que a Olimpíada de 2020, em Tóquio, pode ser uma exceção, já que a NHK planeja transmitir o evento em 8K. “Mas esse é apenas um evento, o que é muito diferente de se ter uma programação inteira nesse padrão”, explica Quested. “Não acredito que os japoneses decidam isso até a época dos Jogos. O tempo é curto, e eles ainda terão que montar toda a infraestrutura. Nesse meio-tempo, as experiências continuam.”
Outra questão que as emissoras de todo o planeta terão que analisar refere-se ao financiamento da nova tecnologia. Se os consumidores têm condições de decidir já sobre a compra ou não de um TV 4K, para os grupos de mídia o processo é bem mais complexo. “Há um certo esgotamento, que exigirá decisões envolvendo a própria natureza do negócio”, analisa.
Especulando sobre o futuro, Quested acha que teremos uma combinação de métodos diferentes de entrega de conteúdo, tendo sempre como base o acesso mais amplo possível. “Será que o consumidor ficará preocupado de onde está vindo seu conteúdo?”, pergunta ele. “O importante é que a imagem seja boa, e nesse ponto temos grandes perspectivas. Mas as emissoras precisarão conquistar a atenção das pessoas, seja sentadas no sofá ou usando um aparelho portátil. E o público não aceita nada que seja complicado.”
*Artigo publicado originalmente no site CE Pro. Clique aquipara ler o original na íntegra.