Por Alex dos SantosA proteção elétrica de uma casa ou edifício não serve apenas para evitar danos aos aparelhos e a seus usuários. Condicionadores, estabilizadores e demais acessórios elétricos têm também a função de controlar as variações da rede, que no Brasil é extremamente instável. E mais: ajudam a eliminar a “sujeira” que trafega pelos cabos junto com o sinal elétrico.
Basta lembrar que o país é um dos recordistas mundiais em raios. De acordo com Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), são mais de 100 milhões de descargas atmosféricas por ano, sendo 70% delas entre os meses de outubro e março. Quando chega a temporada de chuvas, relâmpagos e trovoadas, torna-se mais do que necessário conhecer as soluções de proteção existentes no mercado. Com base nas dúvidas levantadas por nossos leitores, montamos um pequeno guia para escolher a melhor forma de de proteger seu equipamento e sua casa.
1.Por que investir em um protetor de rede?
Para evitar danos causados por variações elétricas intensas, quando a tensão nominal da rede atinge valores abaixo ou acima do tolerado pelas concessionárias e das normas técnicas para eletrônicos. A variação brusca de tensão, corrente ou potência é chamada de “surto”. Pode ultrapassar os 6.000 Volts, “torrando” qualquer equipamento ligado à tomada. Outra ameaça pode vir das variações causadas pelo simples liga/desliga de motores de alta potência. Esse problema ocorre com o restabelecimento da energia, após uma interrupção momentânea, e afeta especialmente quem mora próximo de indústrias, shoppings e hipermercados.
2.Que tipo de “sujeira” chega pela rede elétrica?
A eletricidade que recebemos em casa é gerada em usinas hidrelétricas na forma de corrente alternada, em 60Hz. Essa frequência traduz o ciclo da corrente, ou seja, quantas vezes por segundo ela vem e volta. Ao ser distribuída para fábricas, indústrias, lojas e residências, a elevada demanda de carga, e a maneira como é consumida, acaba gerando harmônicos múltiplos da frequência fundamental, que contaminam a rede elétrica. Com isso, há uma deformação da onda original, comprometendo o desempenho dos equipamentos. Afora isso, eletrodomésticos – como liquidificadores, freezers, lâmpadas fluorescentes – e estações de rádio e TV instaladas perto de sua casa também são responsáveis por alterações na rede elétrica. Causam interferências eletromagnéticas (EMI) e de radiofrequência (RFI), provocando chuviscos na imagem ou ruídos de fundo no som.
3.O que devo saber antes de comprar um protetor de rede?
Primeiro, verifique suas características técnicas. Fabricantes nacionais oferecem mais opções compatíveis com tensões de 220V, utilizada especialmente no Norte e Centro-oeste do país. A capacidade de potência (em watts) deve ser suficiente para ligar todos os aparelhos de áudio e vídeo, inclusive com uma pequena reserva para futuros upgrades. Em geral, um sistema intermediário – com TV tela grande, Blu-ray player, receiver de 100W por canal e conjunto de caixas com subwoofer ativo de até 250W – requer protetor de pelo menos 1.500W (1,5KVA).
4.O mesmo aparelho que protege a rede também filtra o sinal, não importando quantos aparelhos estejam ligados?
Os recursos de proteção e filtragem variam de um modelo para outro, assim como o número de tomadas chaveadas (que sempre devem ser filtradas) e diretas. Estas últimas liberam energia – inclusive quando o condicionador está desligado – e, por não serem filtradas, ajudam a reduzir o consumo de aparelhos que precisam estar permanentemente em standby, como TV e receptor de TV paga. A maioria dos condicionadores libera energia para seus circuitos de tomadas de forma sequencial – uma de cada vez – para evitar súbita queda de tensão quando vários aparelhos de consumo elevado são ligados ao mesmo tempo. Há modelos com entradas e saídas RF para cabo coaxial de antena ou de TV paga, RJ-45 (internet/rede), além de trigger 12V e RCA, que permitem integração e gerenciamento a partir de sistemas de automação. E visor led que mostra a tensão da rede, consumo e amperagem dos aparelhos monitorados através de um processador interno. Em alguns condicionadores, tudo isso pode ser visualizado, e em parte gerenciado, à distância, via rede IP.
Para proteção efetiva,é imprescindível
que o condicionador de energia
esteja conectado auma tomada devidamente aterrada.
5.Posso usar acessórios para informática no meu sistema?
Quase todos os protetores para informática, como filtros de linha, estabilizadores e nobreaks, são direcionados a aplicações de baixo consumo, como desktop, impressora e monitor. Não são recomendados para home theater. Uma opção está nos nobreaks senoidais e estabilizadores de alta capacidade, usados em sistemas de armazenamento e gerenciamento em grandes empresas, que até podem ser adaptados a salas residenciais onde haja media player, servidor e projetor, por exemplo. Na dúvida, melhor não arriscar: numa queda de energia, há o risco de perder todos os dados de um disco rígido repleto de filmes, fotos e músicas; no caso do projetor, é fundamental manter a alimentação até o resfriamento da lâmpada. E o mais importante: fuja de acessórios simplórios e de procedência duvidosa.
6.Basta um condicionador para proteger totalmente meu sistema?
A principal atribuição de um condicionador é a proteção elétrica, com sua alta capacidade de absorção de energia. Mas de nada adianta ter um protetor de alto nível se a instalação elétrica da casa tiver “gambiarras”. Antes, providencie uma revisão geral com um eletricista de confiança. Verifique se fiação, disjuntores e tomadas (de toda a casa) estão bem conservados e dimensionados ao consumo total dos aparelhos. O ideal é um circuito elétrico dedicado ao home theater, partindo diretamente do quadro de força, para evitar – ou, ao menos, reduzir – interferências de eletrodomésticos nos aparelhos de A/V.
7.Existe perigo se o equipamento, mesmo com protetor elétrico, não tiver aterramento?
Para proteção efetiva contra descargas elétricas (e choques acidentais), é imprescindível também o condicionador estar conectado a uma tomada devidamente aterrada. Além de proteger o sistema contra variações e eventuais sobrecargas (curto-circuitos), o aterramento absorve a energia espúria que chega às tomadas e a direciona para o solo, trazendo grandes benefícios à qualidade de A/V. Uma falha comum em certos projetos é negligenciar a ligação do subwoofer no condicionador, já que nem sempre essa caixa fica próxima dos demais equipamentos. Quando não funciona sem fio, o sub geralmente é conectado ao receiver via cabo RCA. E no caso de um surto de tensão, pode haver queima e danos em cadeia ao receiver e aos outros itens do sistema.
8.Quando é recomendado um estabilizador?
Se a rede sofre muitas variações bruscas, esse acessório evita superaquecimento de fontes de alimentação e processadores digitais. Diferentemente dos modelos para informática, os de áudio/vídeo são robustos e têm transformador interno, para maior precisão e capacidade. Muitos até transformam a voltagem de 220V para 110V.
Os bons protetores para áudio e vídeo
eliminam impurezas contidas no
sinal elétrico, que podem provocar
ruídos na reprodução.
9.Para quem tem sistema high-end, qualquer protetor para home theater serve?
Quanto maior a sofisticação do sistema, maior a exigência na proteção e filtragem da energia. É essencial verificar a capacidade do condicionador ou estabilizador de lidar com altas correntes estimuladas por grandes variações de frequência sonora (dinâmica). Uma configuração high-end pode ter amplificador, subwoofer de alta potência e projetor de alto brilho e contraste, que juntos consomem grande parte da energia tratada pelo condicionador. Alguns modelos trazem blocos de tomadas isoladas para evitar contaminação de ruídos entre player, conversor e decoder de TV, por exemplo. Uma solução adotada em sistemas refinados é o regenerador de energia, mais eficiente que um condicionador em todos os aspectos: converte a corrente alternada (AC) da tomada em corrente contínua (DC) e em seguida volta a transformar a energia em AC. Após sucessivas conversões, forma uma nova onda de rede na exata frequência de 60Hz (ou outra senoide pré-determinada), mais pura e livre de ruídos.
10.É verdade que o isolador substitui o aterramento?
O isolador de tensão apenas aumenta a proteção dos equipamentos em residências com aterramento deficiente, pois gera um ponto de referência comum de fuga de sobrecargas para o sistema de A/V. Outra finalidade é evitar interferências e ruídos em locais com rede de 220V e “loop de terra”, que é a circulação indevida de energia através do aterramento. Esse problema é capaz de gerar ruído de baixa frequência audível nas caixas acústicas, mesmo quando não há fonte de sinal em reprodução. O isolador pode ser utilizado também como transformador de voltagem (220V para 110V), porém sempre acoplado a um condicionador de energia.