Alexandre Algranti é o Chief Headphone Officer do site fonesdeouvido.com.br. Leitores deste blog tem 10% de desconto em qualquer compra no site com o código HT2018.
David Chesky fundou sua gravadora Chesky Records em 1978, com o irmão Norman, e se estabeleceu como uma referência na arte e ciência de gravações audiófilas que primam pelas técnicas de microfonação e realçam a experiência de som tridimensional e com pouco ou nenhum processamento eletrônico posterior. Seu catálogo logo se expandiu, hoje e inclui artistas brasileiros de projeção internacional, como Luiz Bonfá, Ana Caram, Rosa Passos e Leny Andrade.
Recentemente, a Chesky lançou a Binaural+Series, um catálogo de gravações com resolução de 24 bits e 192kHz com os dummy heads Fritz e Lars, que soam excelentes tanto com alto-falantes como com fones de ouvido. Esta técnica é um passo adiante na busca de David pelo realismo espacial, desenvolvida nos últimos 25 anos.
Em 2007, David lançou o site HDTracks.com, uma loja virtual de discos em alta resolução onde disponibilizou todo o seu acervo. Hoje, o site é uma verdadeira loja de guloseimas para audiófilos, que vai desde Led Zepelin até Beethoven, numa espécie de iTunes em alta resolução. Infelizmente, nem todo o acervo está disponível para compra de fora dos EUA, mas com os títulos de Jazz e Música Clássica que estão já dá para fazer um bela limpeza nos ouvidos e na alma.
Recentemente, conversamos com David que nos seu uma boa notícia para os leitores da Revista HOME THEATER & CASA DIGITAL e do site hometheater.com.br.
AA – David, o que a técnica de gravação binaural tem de especial?
DC – Primeiramente, temos dois ouvidos e não cinquenta. Gravamos um disco com 50 microfones e temos problemas de fase e coisas assim. Quando realizamos uma gravação binaural, o dummy head se torna a sua cabeça; e, se a sua pina – o pavilhão da orelha – é semelhante à do dummy head, é como se você estivesse na frente da orquestra. Você tem todos os indicadores espaciais tridimensionais. Ao reproduzir uma gravação binaural do selo Chesky com um par de fones de ouvido, você estará no espaço entre os músicos. E o som virá de qualquer um dos 360 graus ao seu redor.
AA – Qual dummy head você mais usa, o Fritz ou o Lars ?
DC – Usamos o Lars da B&K, mas é mais difícil de usar e de transportar. Se tivermos que fazer uma gravação em campo, levamos o Fritz. O Lars é mais complicado, mas é o que usamos na maioria das vezes.
AA – Já experimentou com as tiaras?
DC – Já utilizei, mas o problema é que se estamos fazendo gravações comerciais não podemos captar o ruído da respiração e de movimento da cabeça; então, não funciona. Vou ser sincero: a gravação binaural está na era dos Flintstones… se a pina do meu ouvido é similar à do dummy head, então temos o efeito binaural. E todos têm uma pina diferente, para as pinas similares está bom o suficiente. No futuro, poderemos fazer gravações “ambisônicas” de grau maior. Tiramos uma foto da sua pina com um iPhone e a inserimos no computador que irá decodificar o áudio da maneira exata para você, porque a pessoa sentada ao seu lado tem uma pina diferente.
AA – O Wolfgang Fraissinet, da Neumann, me falou que o Fritz é uma média de milhares de geometrias de cabeças e pinas humanas. Mas a questão não é a média, e sim o desvio padrão…
DC – Você obtém 70% do efeito. Mas, para maximizar, no futuro meus netos terão um app personalizado para a pina deles. No laboratório, já conseguimos isso mas ainda não temos uma solução para o mercado de massa. Quando você ouve conteúdo binaural ajustado a sua pina é outro nível.
AA – Como você produz gravações binaurais compatíveis com fones e alto-falantes? Alguma técnica de pós-produção em especial?
DC – Aplicamos a equalização de campo difuso no processo de produção. A tecnologia binaural envolve muito processamento de sinais digitais de ordem superior. Nosso software é desenvolvido na Universidade de Princeton pelo meu amigo e professor Edgar Choueiri, que é um audiófilo hobbista. Seu trabalho é desenvolver foguetes de plasma para viagens a Marte e outras coisas legais.
AA – Quais fones de ouvido você utiliza durante a monitoração das gravações?
DC – Quando gravamos, utilizamos fones do tipo in ear, pois não podemos ter nenhum vazamento. São fones fabricados especialmente para nós, esqueci a marca. Foram projetados para soar “flat” – com resposta de frequência plana – e são super precisos. Na monitoração, porém, usamos diversos fones. AKG, Sony, Hi Fi Man, Audeze. Mas na gravação tem que ser um fone especial e flat e totalmente selado, para que possamos saber o que estamos fazendo.
AA – Quais discos você indica para quem está dando os seus primeiros passos com gravações binaurais?
DC – O disco recém lançado da Camille Thurman, gravado ao vivo em um clube de jazz, e o You´re Surrounded, este último com a gravação de um jogo de basquete em que você se sente no meio dele.
AA – Os leitores desta coluna podem inclusive baixar o arquivo com o jogo de basquete no post anterior. E que tal gravar uma escola de samba no Carnaval com sua técnica binaural?
DC – Eu adoraria gravar uma escola de samba, na Mangueira, não sei, no Sambódromo ou no barracão… seria surpreendente.
AA – Agora que todo mundo tem um dispositivo de áudio portátil chamado telefone celular, e melhor ainda, um ou mais fones de ouvido, já não está na hora dos produtores pensarem além do estéreo convencional? O estéreo convencional já não está ultrapassado?
DC – Concordo que está ultrapassado, mas a maioria da indústria se contenta com o MP3, que é um problema, você sabe.
AA – Você acha que o áudio imersivo veio para ficar, ou será similar à tecnologia de vídeo 3D, que vai e volta e vai?
DC – O áudio imersivo veio para ficar, e vou te dizer o porquê. Eu não acho que tem a ver com o áudio, a indústria dos videogames vai ter um áudio imersivo tão intenso que se tornará padrão. O negócio do áudio é pequeno, mas o dos videogames é grande. A localização de áudio em 3D com referências espaciais será importante para matar aquele monstro em outro planeta. A indústria do áudio irá se beneficiar. Os games levarão o áudio 3D para as gerações mais jovens.
AA – Algum recado especial para os audiófilos no Brasil? O Jeff Lanier, da HD Tracks, me falou que talvez você teria uma surpresa para eles…
DC – Os leitores da Revista HOME THEATER & CASA DIGITAL e do site hometheater.com.br têm um código de desconto especial de 25% na primeira compra dos discos do selo Chesky no site HDTracks.com. Temos muitos artistas brasileiros legais, como Badi Assad, Leny Andrade, Rosa Passos e Antonio Carlos Jobim. O código é RHT2017 e é válido até 31/12/2017.
AA – Que legal! David, muito obrigado pela divertida conversa e pela generosidade com o código de desconto no site.
Imagens: Alan Nahigian
*Alexandre Algranti é o Chief Headphone Officer do site fonesdeouvido.com.br. Leitores deste blog tem 10% de desconto em qualquer compra no site com o código HT2018.