Não importa se você cresceu ouvindo MP3 num iPod, ou se na sua infância havia uma jukebox ou discos de vinil 78RPM (rotações por minuto): com certeza mudou a forma de ouvir música durante a sua vida. Nesta história, vamos viajar pelos 100 anos de evolução dos sistemas de áudio, começando com o velho hábito de ficar de ouvido colado ao rádio até as várias formas atuais de streaming. Cada passo dessa evolução tem a ver com o contexto, os formatos de reprodução e o estilo de vida de sua época. É uma viagem fantástica pela memória de todos nós.
CONSOLES DE RÁDIO (1920)
Antes da TV e da internet, as pessoas costumavam se reunir na frente de um receptor de rádio para ouvir notícias e programas de entretenimento. Após os avanços técnicos na amplificação e na transmissão de sons, ocorridos durante o período da 1a Guerra Mundial, as primeiras emissoras de rádio surgiram nos EUA nos anos 1920, transformando-se rapidamente no principal meio de comunicação de massa em todo o mundo. O rádio revolucionou a forma como se consumia informação. Grandes consoles de madeira como o da foto passaram a ser o centro das atenções nas residências. Famílias e amigos se reuniam na sala para acompanhar programas jornalísticos, esportivos, humorísticos e musicais, via AM ou FM. E, assim como ocorre hoje com a internet, nem sempre era possível distinguir fatos reais da ficção. Em outubro de 1938, o produtor e apresentador Orson Welles decidiu adaptar o clássico Guerra dos Mundos, de H.G.Wells, famosa da literatura de terror, para a rádio CBS, de Nova York. Houve pânico em algumas áreas da cidade, com muitos ouvintes acreditando realmente que estava acontecendo uma invasão alienígena.
TOCA-DISCOS (1920)
Na verdade, os primeiros players haviam surgido no final do século 19, a partir de experiências do grande inventor Thomas Edison e sua equipe. Mas o aparelho como se conhece hoje começou a ser comercializado em meados dos anos 20, quando os discos de 78 rotações foram padronizados nos EUA. Eram maiores que os LPs (long-playing) de 33 rotações surgidos anos mais tarde, e também comportavam menos tempo de conteúdo gravado. Foi a primeira vez que se conseguiu preservar na íntegra os sons da música clássica, das primeiras bandas de jazz e da música pop que então se ouvia. Cada lado do disco continha uma música, no máximo duas. A operação do player era toda manual, e o som saía por uma espécie de corneta, já que ainda não existiam os alto-falantes. Quem então poderia imaginar que quase um século depois o vinil reconquistaria boa parte de sua popularidade?
SISTEMA HI-FI (1950-1960)
Após a 2a Guerra Mundial, com o crescimento das áreas urbanas, a sala de estar passou a ser o principal espaço das casas, estimulando as pessoas a investir para modernizá-la. Era hora de substituir os velhos rádios por aparelhos maiores e com mais recursos: toca-discos e receptor de rádio combinados no mesmo módulo, com poderosos alto-falantes alimentados por amplificadores elétricos. Surgiram inúmeras variações de estilo, algumas inclusive acomodando um televisor, que começava a se popularizar. Passou a ser comum um casal tomar um drink e se acomodar diante do seu Hi-Fi (abreviação para “alta fidelidade”, em inglês), para ouvir suas músicas favoritas, seus programas de rádio e – agora também – seus shows na TV.
GRAVADORES DE ROLO (1950)
Com o lançamento comercial da fita magnética, a maior parte das gravações musicais passou a ser registrada nesse suporte – e isso permaneceu até os anos 1980. Muitos talvez não se lembrem, mas os primeiros aparelhos de uso residencial à base de fita foram os reel-to-reel (que no Brasil foram apelidados “gravadores de rolo”). Logo conquistaram a preferência dos audiófilos, pela impecável fidelidade das fitas na reprodução analógica, superior à do vinil.
SISTEMA ESTÉREO (1960)
Com o desenvolvimento das tecnologias, surgiram vários formatos de reprodução de áudio. A tendência entre os jovens era trocar os equipamentos “tudo-em-um” de seus pais por sistemas modulares: amplificador, rádio, toca-discos e tape-decks, com 2 caixas acústicas separadas, reproduzindo em estéreo (2 canais). Entusiastas do áudio aderiram ao hábito de montar eles próprios seus sistemas domésticos, com módulos de marcas diferentes. Era o início do “áudio high-end”, em que cada módulo deveria ser o melhor e o mais avançado. Essa tendência começou a mudar nos anos 70, com o surgimento de players e amplificadores de custo mais baixo, embora o visual requintado. Fabricantes passaram a oferecer “sistemas estéreo” integrados, em que a mediocridade do som era a norma.
PLAYERS DE 8 PISTAS (1960)
Este formato surgiu como solução para uma demanda emergente nos anos 60: colocar som nos automóveis. Com seu tamanho minúsculo (se comparado aos players de rolo), os 8-Track podiam ser facilmente adaptados no painel dos veículos, e foi exatamente isso que fizeram marcas como Ford, GM e Chrysler. Ao contrário das tentativas anteriores, o formato apresentava incrível estabilidade mesmo com o carro em alta velocidade. O sucesso foi tão grande que motivou a indústria eletrônica a lançar players de 8 pistas também para uso doméstico, de forma que os usuários podiam ouvir as mesmas fitas dentro ou fora de casa.
TAPE-DECK (1970)
Lançadas quase simultaneamente às 8-track, as fitas de áudio compactas não foram bem aceitas de início devido ao baixo nível de fidelidade. Os chiados, em alguns casos, eram insuportáveis. Mas, com o tempo, venceu a extrema praticidade de uso e as compact-cassettes se tornaram um dos grandes êxitos da indústria em todos os tempos. Nos anos 70 e 80, já com os problemas técnicos resolvidos, o formato decolou. Grande parte do mérito se deve à Sony, com o lançamento do Walkman, em 1979. Não demorou a surgirem os tape-decks de uso residencial e sua versão para automóvel. Gravadoras passaram a fazer seus principais lançamentos nos dois formatos da hora: vinil e fita cassete. E, além disso, criou-se o hábito do usuário fazer suas próprias gravações utilizando fitas virgens.
CD PLAYER (1980)
A revolução digital do áudio teve início com o lançamento do Compact Disc, em 1982. Nos anos seguintes, o formato tomou conta de residências, escritórios, automóveis e até das ruas, com modelos portáteis, inclusive o Discman (também da Sony). Desenvolvido para ser o sucessor do vinil, o CD foi bem mais longe: tornou-se padrão na indústria de informática, graças a sua enorme capacidade de armazenamento de dados.
PLAYER PORTÁTIL (1980)
Naquela época, quem não se contentava com um Walkman tinha esta alternativa: o chamado boombox. Eram players/gravadores não tão leves, mas já integrados a receptor de rádio e tape-deck (mais tarde CD), que podiam ser carregados nos ombros e levados para a praia nos fins de semana. Funcionavam com alimentação A/C ou bateria, e alguns incluíam entrada AUX para conectar outras fontes de sinal. Ficaram famosos os espetáculos de breakdance nas ruas das grandes cidades – tudo isso, claro, antes da era iPod.
DIGITAL AUDIO TAPE (1980/90)
A intenção era que o DAT substituísse o CD da mesma forma que este havia superado o vinil. Era um tipo mais avançado de fita magnética, capaz de registrar bits e, portanto, com muito maior fidelidade e capacidade de memória. O formato teve sucesso inicial no Japão e alguns países da Europa, mas não houve tempo de atingir a popularidade do CD: logo chegaram os dispositivos de memória flash, e a história mudou mais uma vez.
MINIDISC (1990)
Após os êxitos retumbantes com a fita cassete e o Walkman, a Sony acreditou que este substituto das fitas seria imbatível. Era de fato mais barato que o DAT, mais compacto e com impressionante fidelidade sonora. Mas a inovação foi atropelada pelo surgimento dos CDs regraváveis (rewritable), com custos cada vez mais atraentes e aproveitando um hábito que os consumidores já haviam adotado.
MP3 (1990/2000)
MPEG 3 era como se chamava o codec criado na Alemanha no início dos anos 90, que permitiam comprimir o sinal de áudio contido num CD, por exemplo, para armazená-lo em dispositivos de memória compactos. Com a expansão da informática e o surgimento da internet, nada mais natural do que usar o formato MP3 para armazenar arquivos de música que poderiam ser reproduzidos em qualquer computador. Não demorou a surgirem os players portáteis (Archos e Rio foram as primeiras marcas de sucesso), assim como os serviços online do tipo Napster, com milhões de gravações à disposição. Após a virada do milênio, o iPod da Apple tornou-se a grande referência no segmento, com seus milhares de imitadores.
STREAMING (2010)
Com os smartphones tornando-se onipresentes e a distribuição de música em diversas plataformas (YouTube, iTunes e Spotify são hoje as mais usadas), essa passou a ser a forma mais comum de acesso à música. Empresas como Sonos surgiram para fornecer caixas acústicas que se conectam diretamente à internet, aposentando os sistemas estéreo convencionais. Uma única caixa sem fio é capaz de espalhar áudio pela casa inteira, controlada via aplicativo.
SMART SPEAKER (hoje)
Os assistentes de voz (Amazon Alexa, Google Home, Apple Homepod) vão se transformando no novo padrão de acesso à música em casa. Com qualidade de áudio cada vez melhor, essas caixas acústicas podem se integrar a outras, via Bluetooth ou conector de 3,5mm, permitindo que o usuário controle a reprodução pelo seu smartphone ou com a própria voz.
(c) REVISTA HOME THEATER & CASA DIGITAL, com base em pesquisa do site Digital Trends.