Ao contrário da Cultura, Educação e Meio Ambiente, ninguém pode acusar o governo Bolsonaro de incompetência no setor de Tecnologia. Mas pode chamá-lo de “ausente”. Quem atua na área continua esperando que o governo eleito em 2018 comece a fazer alguma coisa, qualquer coisa, nesse segmento que é cada vez mais decisivo para o futuro do país. O ministro astronauta pode ter boa vontade, mas a realidade é que até agora tem se mostrado apenas um objetivo decorativo.
Alguém pode dizer “melhor assim”, considerando as lambanças dos governos anteriores. E talvez seja mais conveniente mesmo o governo não fazer nada, desde que permita à iniciativa privada tocar esse barco. O problema é que tecnologias inovadoras – como Inteligência Artificial e 5G – implicam mudanças regulatórias e tributárias que só o Estado pode promover. Nesse caso, “não fazer nada” significa “andar para trás”.
Analisando especificamente o 5G, vemos que outros países já estão a todo vapor, enquanto aqui ainda se discute se, e quando, e como, será feita a regulamentação. Nesta quarta-feira, um primeiro passo foi dado por três das principais entidades do setor de telecom: ABERT, representando as emissoras de rádio e TV; ABRATEL e SINDITELEBRASIL (telefonia). Demorou, mas os dois segmentos chegaram a um acordo e estão apresentando ao mercado uma proposta técnica para eliminar os já comprovados problemas de interferência entre os sinais de TV via satélite e de banda larga 5G.
A proposta se baseia em estudos recentes do CPqD sobre novos filtros LNBF que melhoram o direcionamento do sinal captado pelas antenas parabólicas; mais testes precisam ser feitos, mas os resultados deixaram animados os técnicos do CPqD, que no Brasil é o órgão mais capacitado para esse tipo de análise (felizmente, ainda não foi desmontado pelo governo federal).
Para quem não está familiarizado, os filtros LBN (Low-noise Block-downconverter) são um componente essencial das antenas, pois amplificam a potência do sinal que chega do satélite. Filtros LBNF são equipados com um elemento adicional chamado Feedhorn, um tubo metálico que direciona o sinal para a parte central da antena, melhorando a recepção. Para saber mais, sugiro este link.
Voltando ao 5G, a questão das interferências com sinais de TV já havia sido apontada no processo de transição digital, em que parte das frequências na faixa de 6MHz seria repassada às operadoras de celular 4G (relembrem aqui). A própria Anatel – que ainda não definiu a data do leilão das frequências para 5G – já havia feito seus testes no ano passado, mas se recusou a endossar os estudos do CNpQ contratados pelas operadoras (detalhes aqui).