“Chegou a hora dos produtos eletrônicos produzidos para durar: produtos que lhe devolvam o poder de atualizá-los, customizá-los e consertá-los”.
É saudável a iniciativa de Nirav Patel, fundador da Framework, fabricante de computadores na Califórnia, que desde o começo do ano vem agitando sites e fóruns de tecnologia com a proposta de um laptop que o próprio usuário pode montar. Em entrevista ao site do El País, Patel se mostra orgulhoso de sua criação, garantindo que, mais do que ficar rico como Gates, Jobs e tantos outros, sua intenção é criar uma comunidade de consumidores mais atentos aos seus direitos.
“É uma loucura que produtos tão caros e avançados sejam tão descartáveis”, diz ele, referindo-se a computadores de US$ 2.000 que, por causa de uma pequena peça defeituosa (uma tecla ou bateria, por exemplo), se tornem inutilizáveis – já que o valor do conserto é astronômico.
Patel (foto) – que trabalhou na Apple e fez parte do projeto Oculus, o primeiro óculos de realidade virtual – percebeu que, ao contrário dos primórdios quando era comum se comprar peças e montar um computador em casa, hoje os aparelhos – especialmente laptops – são quase invioláveis. Pior: se desatualizam rapidamente e o consumidor, mesmo tendo pago caro, se vê sem saída.
Foi daí que nasceu a Framework, que há três meses lançou no mercado norte-americano (EUA e Canadá) seu primeiro laptop, com tela LCD de 13,5″, 1,3kg, Wi-Fi 6, Windows 10 instalado e em três versões. A mais barata (US$ 999) tem 8GB de RAM e 256GB de armazenamento. A repercussão tem sido excelente na mídia, mas claro que a empresa não conta com um esquema nacional de distribuição, nem consegue ainda produzir em larga escala.
Patel diz que qualquer pessoa pode montar ou consertar um computador (“basta uma chave de fenda”), e todo o marketing da Framework é no sentido de que, se você não gostar do seu aparelho, é facílimo consertá-lo – a própria Framework fornece os componentes, inclusive através de um marketplace com fornecedores de vários países.
Não há como deixar de lembrar de tentativas semelhantes, inclusive de gigantes como Google (com o fracassado Projeto Ara) e Dell (com o Alienware Area-51m). Mas também não há como contestar Patel quando fala da “obsolescência programada” praticada por grande parte dos fabricantes de eletrônicos.