Você compraria ações de quatro empresas que, juntas, tiveram queda de US$ 2 trilhões em valor de mercado no período de um ano? Pois é, não estou falando de empresas quaisquer. Elas atendem pelos nomes de Alphabet (dona do Google), Apple, Amazon e Microsoft. Some a isso outras marcas de peso (Uber, Netflix, Meta/Facebook, Spotify), todas com perdas entre 40% e 70%, e já é possível sentir aquele gostinho amargo de bolha estourando.
Essa é a situação atual do mercado de tecnologia, segundo a revista The Economist, baseada em dados da agência Bloomberg, que cobre o mercado financeiro americano. Nos últimos 12 meses, o índice NASDAQ, que mede o desempenho das empresas de tecnologia (não apenas as gigantes), despencou 30%, acendendo uma insistente luz amarela entre os investidores.
Outro dado preocupante: no mesmo período, o setor de tecnologia eliminou nada menos do que 45 mil postos de trabalho, algo que nunca tinha acontecido desde a “bolha” original dos anos 2000/2001. Uma empresa como Uber, por exemplo, tida até então como exemplo de inovação e ousadia, queimou incríveis US$ 25 bilhões, o equivalente a metade de seu valor de mercado.
Nesta segunda-feira, a todo-poderosa Amazon anunciou – pela primeira vez em sua história de 25 anos – a demissão de 10 mil funcionários ao redor do mundo. Curiosamente, a maior parte deles trabalha no desenvolvimento do Alexa, o assistente de voz que é líder mundial – sinal de como, no mundo corporativo e financeiro, os números podem ser enganosos.
Netflix, Facebook e Twitter podem quebrar?
Com o anúncio das demissões, a Amazon dá continuidade a um fenômeno que se iniciou em meados deste ano, envolvendo Netflix (vejam aqui), Alphabet e outras gigantes. A Meta, de Mark Zuckerberg, seguiu a mesma linha, comunicando aos acionistas que demitiria 11 mil funcionários.
A diferença em relação à bolha 2000-2001 é que essas empresas estão se antecipando e tomando providências para conter a sangria de dólares. Naquela época, milhares de investidores foram pegos de surpresa quando empresas ponto.com começaram a cair em efeito dominó. Hoje, com as informações circulando quase em tempo real, ninguém imagina que uma Amazon ou Microsoft possa quebrar…
Mas a inquietação do mercado é evidente, especialmente após a mais recente palhaçada (desculpem, não encontro outra palavra) protagonizada por Elon Musk. O trilionário que há anos é motivo de piada no Vale do Silício anunciou que compraria o Twitter, desistiu, voltou atrás e confirmou a compra – tudo isso em questão de três meses. Após fechar o negócio, anunciou 3.700 demissões (há quem diga que foram muitas mais) para, dias depois, chamar de volta uma parte delas. E, pior, comunicou aos investidores que a empresa pode ir à falência em 2023.
Não me lembro de caso semelhante na história do capitalismo: alguém compra uma empresa para logo em seguida anunciar que ela irá falir!!! O episódio ilustra bem o momento do mercado de tecnologia: quem agora irá investir em empresas e marcas administradas dessa forma?