Se você, ao ler o título acima, pensou em Apple, Google ou Tesla, esqueça? Algum banco, petroleira ou laboratório farmacêutico? Negativo. O nome é TSMC: Taiwan Semiconductor Manufacturing Company. E quem está dizendo não sou eu, mas Rob Toews, executivo com mais de vinte anos de experiência no Vale do Silício, que hoje comanda o fundo de investimentos Radical Ventures, especialista em startups de tecnologia.
Vale a pena prestar atenção ao alerta que ele fez recentemente em palestra no TED, principal plataforma de conteúdos da atualidade, a propósito de um tema que a maioria dos experts – e também a mídia – teima em ignorar. Este: com a expansão da Inteligência Artificial, como garantir o suprimento mundial de chips de alta performance, sem os quais as empresas, cada vez mais dependentes dessa tecnologia, simplesmente entram em colapso?
Não é alarmismo. O que Toews pondera é que a quase totalidade da produção dos chips utilizados por empresas como Google, Amazon, Nvidia, Tesla, Microsoft e AMD, entre outras, vem da TSMC. Como é possível que um único fabricante detenha tal poder? É o que ele questiona, com um adendo alarmante: vários especialistas em geopolítica têm prognosticado que a ilha de Taiwan, com seus pouco mais de 23 milhões de habitantes, pode nos próximos cinco anos ser invadida pela China, que se considera “dona” daquele território – a ilha se separou após a revolução comunista de Mao Tse Tung, em 1949.
Só há outros dois fabricantes no mundo
“Se e quando a China invadir Taiwan, as fábricas da TSMC muito provavelmente sairão do ar”, diz Toews. “Isso significará que, pelo menos por um bom tempo, cessará a produção de chips de alta performance para IA”. Segundo ele, só existem dois outros fabricantes em condições de suprir essa demanda, mas em escala muito menor que a TSMC. Um deles é a Samsung, a única – além da taiwanesa – que detém a tecnologia de chips de 3-nanômetros (como este abaixo), a mais avançada hoje; mas a coreana levaria anos para atingir os volumes e a confiabilidade da concorrente.
Outra seria a americana Intel. Não por acaso, o CEO Pat Gelsinger, que fará o discurso de abertura (keynote) da CES na 3a feira, vem reiterando seus planos de já em 2024 começar a produzir chips de 2nm, mais eficientes que os atuais da TSMC. O problema é que a Intel perdeu muito espaço na última década, um dos motivos, aliás, pelos quais a taiwanesa se tornou tão poderosa. E, como lembra Toews, fabricar chips em escala planetária, como requer agora o mundo da IA, é algo que exige investimentos na casa das centenas de bilhões de dólares.
Para ilustrar, o palestrante cita dados públicos sobre os negócios da TSMC. Seu valor de mercado é estimado em US$ 470 bilhões, o que a coloca em 13º lugar no ranking das maiores companhias do mundo. Em 2021, o grupo anunciou investimentos superiores a US$ 100 bi durante três anos, algo que Toews considera impensável para qualquer outra empresa.
“Um desastre para a humanidade”
Um dos fatores que impulsionaram a TSMC foi sua estratégia de promover parcerias com fornecedores e clientes de vários países, incluindo provedores de software e fabricantes de componentes. Uma das citadas é a californiana Nvidia, famosa por suas placas de vídeo de alto desempenho. Esses parceiros trabalham em conjunto com a TSMC no desenvolvimento de seus produtos, com altíssimos ganhos de escala. Aos poucos, a taiwanesa foi se tornando insubstituível nos planos de negócio de várias gigantes de tecnologia.
Há ainda os fatores políticos. Ao contrário do que tem feito com os fabricantes chineses, o governo Biden vem abrindo as portas do mercado americano para a TSMC e seus parceiros. Em sua fala, que pode ser lida ou assistida neste link, Toews lembra que a empresa anunciou em 2022 um investimento de US$ 40 bi em duas fábricas de chips no Arizona, que começam a produzir em 2025. A ideia é garantir que os EUA não percam o controle sobre a cadeia mundial de suprimentos de chips.
Só que essa produção “americana” será ínfima perto do que a TSMC produz em Taiwan. Mais importante do que isso, e tentando ver pelo lado positivo, é que a própria China é hoje totalmente dependente de Taiwan na área de chips para IA. Não seria bom negócio brigar com um fornecedor tão estratégico.
Na hipótese, catastrófica, de que a produção da TSMC seja interrompida, o mundo ficaria dependente de chips inferiores, hoje já produzidos nos EUA, Israel, Coreia e alguns países europeus. “Seria um desastre para a humanidade, afetando profundamente a evolução da IA”, lembra Toews. “Espero que a diplomacia prevaleça”.