A mais recente trapalhada de Elon Musk, ameaçando não cumprir determinações da Justiça brasileira, pode ser o episódio que faltava para acelerar a criação de medidas legais de controle das grandes empresas de internet. A ameaça é tão esdrúxula que deve aumentar a rede de apoios ao projeto que tramita no Congresso, visando responsabilizar Google, Facebook, X (Twitter), Instagram e Tik Tok pela publicação de fake news.
De fato, a fase não anda muito boa para mr. Musk. Apesar do fantástico avanço representado por seus sistemas de satélites e do sucesso inicial de sua experiência com a implantação de chips no cérebro de pessoas com deficiência (vejam aqui), as empresas do bilionário americano vêm colecionando reveses, muito em função do temperamento errático de seu líder. Reportagem recente do The Wall Street Journal, baseada em depoimentos de seus ex-colaboradores, revelou como o uso de LSD, cocaína, ecstasy etc. se disseminou até mesmo dentro dos seus próprios ambientes de trabalho (aqui, um trecho em inglês).
Também teve péssima repercussão a disputa judicial de Musk contra a OpenAI, criadora do ChatGPT, empresa que ele ajudou a fundar em 2014. Seus ex-sócios no projeto alegaram que Musk queria “controle absoluto” sobre a empresa e ficou furioso quando, em 2022, a OpenAI recebeu uma injeção de US$ 10 bilhões da Microsoft, para logo em seguida se tornar uma das propriedades mais valiosas do mundo (detalhes aqui).
O atrito de Musk com Alexandre de Moraes, do STF, por mais que se possa criticar algumas decisões do ministro, parece mais uma aberração do homem que comprou o Twitter por US$ 44 bilhões e conseguiu a proeza de fazer despencar o valor da empresa em mais de 70% em menos de um ano! Na prática, ainda que alguns o vejam como “gênio empreendedor”, já perdi a conta dos artigos que li na imprensa internacional relatando como sua postura irresponsável prejudica quem investe em suas empresas.
Pode parecer paradoxal, mas comportamentos como esse – e também alguns de colegas como Zuckerberg e Bezos – podem fazer crescer o movimento pela regulamentação (e, portanto, controle por parte dos governos) das Big Techs. Neste fim de semana, o governo brasileiro anunciou que analisa quatro formas de fazê-lo: pagamento pelo uso da rede de banda larga, pagamento às empresas de mídia pelo uso de seus conteúdos jornalísticos, aumento dos impostos que incidem sobre a atividades das Big Techs e taxação das empresas de streaming.