Por ter sido criado ainda no tempo da internet discada, fico ansioso só de pensar em produtos ou serviços que estão o tempo todo online. Minha casa é assim. Quero que a temperatura esteja agradável quando volto do trabalho, que as luzes do quarto acendam assim que abro a porta etc. Mas foi justamente esse hábito que me fez pensar: por que essas coisas exigem uma conexão de internet 24 horas por dia? Foi quando decidi montar uma casa inteligente totalmente offline, que não dependa de servidores ou operadoras externas.
Um de meus receios era que o fabricante de um produto smart vá à falência e desapareça da noite para o dia. Não é um medo infundado – no ano passado, a Insteon, conceituada empresa de soluções residenciais inteligentes, de repente anunciou que iria desligar seus servidores devido a dificuldades financeiras. O sistema voltou a funcionar, mas só porque alguns usuários mais fiéis se juntaram para comprar a empresa e mantê-la ativa.
Não foi um caso isolado. A Philips interrompeu em 2020 o suporte a suas lâmpadas Hue Bridge, e em 2023 os sistemas da MyQ para acionamento de portões de garagem simplesmente se tornaram incompatíveis com o assistente Google – sem qualquer aviso prévio.
Muitos também se preocupam com os riscos dos dispositivos smart de baixo custo na questão da privacidade, mas para mim esse é um problema menor. Ter uma casa inteligente totalmente offline passou a ser um sonho mais importante que a preocupação com falências e invasões de privacidade.
Como minha casa inteligente foi montada
Na configuração de minha casa, metade dos aparelhos ainda pode ser acessada através dos apps de fabricantes – só por precaução. Mas, no dia-a-dia, todos são controlados a partir de um hub offline, e todos os recursos de automação rodam localmente. Se eu desligar a minha banda larga, ainda assim eles continuarão funcionando normalmente, pelo menos enquanto durarem suas baterias.
Existe um software de código aberto chamado Home Assistant, mantido por entusiastas de vários países. Ou seja, não é vinculado a nenhuma marca em particular, nem precisa de “rentabilidade” para continuar existindo. E é muito simples de usar: basta instalar em qualquer computador de baixo custo e, a partir daí, configurar a casa inteira usando um smartphone ou laptop.
Home Assistant utiliza um código sob sua interface de usuário, para comandos de automação e criação de cenas. Mas você não precisa se preocupar nem um pouco com isso. A interface evoluiu muito nos últimos anos, e é possível fazer tudo sem ter que pensar em códigos.
Mistura de várias marcas
Eu utilizo um mix de dispositivos Wi-Fi e Zigbee por toda a casa. Zigbee é um protocolo do tipo mesh que está por trás de vários sistemas de automação. A diferença é que, para usá-lo, você precisa adquirir um hub de determinadas marcas. Com Home Assistant, você pula essa parte – basta plugar um adaptador Zigbee USB e montar sua rede agnóstica, ou seja, independente de qualquer marca.
Alguns aparelhos podem ser problemáticos, mas sempre se dá um jeito. Vejam meu aspirador, por exemplo. É um Xiaomi de 1ª geração, que comprei há cinco anos, muito antes de entender qualquer coisa sobre smart home. Ele pode ser roteado usando um software chamado Valetudo. Mas você terá de entender noções de Linux e ler toda a documentação referente.
O Home Assistant oferece atualizadas mais de 2.500 integrações para eliminar esse tipo de problema, incluindo as principais plataformas abertas de automação, iluminação e áudio (Sonos e Google Nest entre elas). Isso significa que o software permite criar automações entre marcas diferentes mesmo que elas não sejam compatíveis entre si. Eu, por exemplo, uso um interruptor IKEA para controlar minhas lâmpadas Xiaomi, meu ar-condicionado LG e abrir meu app Plex na minha TV webOS.
Isso pode ser feito com Alexa e Google Home, mas com o Home Assistant a variedade e flexibilidade de suporte são inigualáveis. Sem falar que, como não há “pacotes de dados” saindo e entrando da minha rede doméstica, as interações são processadas instantaneamente.
*Publicado no site Android Authority. Clique aqui para ver o original na íntegra