
As tarifas anunciadas no último dia 2 pelo presidente Trump resultarão em enormes aumentos de preço em TVs e monitores vendidos no próprio mercado americano. Trata-se de uma completa reversão das políticas de comércio que vigoraram nos últimos 80 anos, levando o país de volta a um regime de tarifas que existia no século 19!
A “ordem executiva” começa enumerando uma série de justificativas. Comenta o desbalanço comercial dos EUA em relação a outros países e os prejuízos que isso vem causando às indústrias americanas. O déficit comercial em 2024 atingiu o recorde de US$ 1,2 trilhão!
China, Taiwan, Coreia e Japão: os mais afetados
Entre os países mais afetados, a líder é a China, agora com uma tarifa adicional de 34% aplicada sobre os 20% que Trump já havia anunciado em fevereiro, alegando que a China não estava controlando a exportação da droga Fentanyl para os EUA.
Outros países atingidos por altas tarifas comerciais são Coreia do Sul (25%), Taiwan (32%), Japão (24%), Vietnam (46%), Tailândia (36%) e Índia (26%). Além disso, a Secretaria de Comércio anunciou que aumentará a vigilância sobre a entrada de itens de baixo custo (abaixo de US$ 800), dos quais 60% atualmente vêm da China e que até agora não sofriam taxação.
Embora a justificativa para as novas medidas sejam as altas tarifas adotadas pelos demais países, além de suas “barreiras não-tarifárias”, o cálculo das tarifas impostas agora utiliza um critério arbitrário. O percentual se baseia na seguinte conta: déficit atual dos EUA com o país, dividido pelo valor total das exportações do país para os EUA.
Exemplo: o déficit comercial com a China em 2024 ficou em US$ 295 bilhões; dividindo pelo total exportado pela China aos EUA (US$ 439 bilhões), chega-se a 0.67. Esse número é então cortado pela metade, chegando a 34%, que é a nova tarifa aplicada sobre os produtos chineses.
É certo que as novas tarifas provocarão fortes aumentos nos preços dos displays importados pelos EUA. Quase 100% dos displays vendidos no país vêm de outros países. A tabela abaixo indica os impactos sobre cada categoria de tela – smartphone, computador portátil, monitor e TV – para os principais países fornecedores.

Em 2024, as TVs importadas pelos EUA eram taxadas em 3,9%, sendo as que vinham da China com taxação adicional de 7,5%, totalizando 11,4%. Já as TVs importadas do México (onde vários fabricantes asiáticos possuem fábricas) não pagavam tarifa, porque os EUA mantinham o acordo comercial USMCA (United States-Mexico-Canada Agreement), assinado em 2020.

para atender o mercado americano.
Agora, a cadeia de suprimentos criada pela indústria nos últimos anos priorizou a montagem das TVs de tela grande no México, escapando portanto das novas tarifas. Mas TVs menores continuam sendo montadas na China e outros países do Sudeste Asiático. Diante do novo cenário, espera-se que os fabricantes transfiram toda a montagem para o México.
Também será enorme o impacto sobre os custos de importação dos smartphones: US$ 200 para modelos vindos da China, US$ 150 para os produzidos no Vietnam e US$ 120 para os que vêm da Índia.
Para notebooks, tablets e demais dispositivos classificados como Mobile PCs, veremos os custos subirem em pelo menos US$ 200. PCs mais avançados (high-end) montados em Taiwan, que em 2024 custavam em média US$ 1.000, chegarão este ano com acréscimo de US$ 320.

Mesmo assim, os preços irão subir.
No caso de smartphones, monitores e dispositivos móveis, parece não haver outra solução a curto prazo se não aumentar os preços. Muitas empresas na cadeia de suprimentos se anteciparam em dezembro e janeiro últimos, fazendo suas encomendas antes do anúncio (que já era esperado) das novas tarifas. Por isso, o aumento nos preços deverá acontecer mais tarde. E é provável que, diante disso, as encomendas sejam reduzidas.
É inevitável que os preços mais altos levem a volumes de compra menores. Não temos uma base prévia para fazer estimativas sobre a magnitude desse impacto, mas com um aumento médio de 46% nos custos de importação será algo substancial.
E, claro, se outros países responderem e as tarifas escalarem mais alto, haverá um bloqueio nas operações comerciais, resultando numa recessão mundial. Nesse caso, a queda na demanda será ainda mais grave.
*Analista da consultoria DSSC, especializada na indústria de displays. Para ver o artigo original, clique aqui.
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