O mercado mundial de displays sofreu uma queda em 2022, após dois anos de crescimento impressionante devido à pandemia. A queda aconteceu tanto em número de unidades vendidas quanto no faturamento dos fabricantes. E incluiu todos os segmentos de mercado: TVs, monitores, notebooks, tablets e smartphones.
Na virada do ano, a economia mundial vive uma incerteza, com a inflação subindo menos e o fantasma da recessão ainda rondando os mercados. No entanto, as estatísticas do segundo semestre confirmam que, em tempos de crescimento negativo da indústria como um todo, ganham destaque produtos de maior valor agregado, que trazem tecnologias mais avançadas.
É o que estamos observando com displays baseados em painéis orgânicos (OLED), pontos quânticos e backlights MiniLED. Essas três categorias tiveram em 2022 maior participação de mercado, e isso deve continuar acontecendo este ano. Os preços no varejo começaram a cair, e isso fará aumentar a demanda ao longo de 2023.
MiniLED tem forte crescimento
Os displays baseados em minileds, dispositivos que são até 40X menores que os leds comuns, já foram lançados por vários fabricantes, inclusive a Apple. Já é possível encontrá-los até mesmo em painéis de automóveis. Mas o alto custo de fabricação ainda é um problema.
Uma estratégia dos fabricantes tem sido aumentar o número de zonas de dimerização em cada painel, sendo cada zona é comandada por um driver (circuito integrado). Com circuitos de maior capacidade, consegue-se acionar mais zonas por driver. Isso significa menor custo industrial, já que cada CI permite maior quantidade de dados e menores índices de perda.
Em 2022, vimos ainda a queda nos preços dos painéis LCD produzidos na China, o que acaba beneficiando toda a cadeia de produção mundial. No caso dos TVs, está aumentando a participação dos painéis MiniLED, especialmente no segmento de alta resolução (4K e 8K) e telas de tamanho maior. Talvez essa tecnologia consiga, em 2023, alcançar os níveis de venda dos painéis OLED.
No caso dos monitores, os painéis MiniLED têm grande potencial de crescimento devido ao seu apelo para games 4K, com taxa de renovação de tela de 120Hz. São displays que exibem também melhor tempo de resposta e controle automático de latência (ALLM).
Sem dúvida, o fato da Apple passar a usar MiniLED nos iPad e Macbook Pro fez subir a demanda por essa tecnologia, o que continuará acontecendo este ano. Mas essa tendência pode mudar em 2024, quando a empresa de Cupertino deverá adotar OLED nessas linhas de produto.
Quantum Dot aumenta sua participação
A tecnologia conhecida pela sigla QD está em constante evolução, com o uso de novos materiais e processos industriais. Graças a ela, dispositivos LCD, OLED e MicroLED estão sendo continuamente aperfeiçoados. A maioria dos principais fabricantes – inclusive a LG – já adotou os painéis QDEF (Quantum Dot Enhancement Film), o que na prática permitiu “reinventar” o LCD. Com a queda nos preços dos painéis de cristal líquido, é de se esperar que em 2023 os displays QD baseados em LCD aumentem ainda mais sua participação de mercado.
QD-OLED, a grande novidade
Na CES 2022, a Samsung Display introduziu essa tecnologia de TVs em tamanhos de 55” e 65” – além de um monitor de 34”. Em meados do ano, Samsung e Sony (esta utilizando painéis da fabricante coreana) colocaram os primeiros produtos em alguns países, com destaque para os monitores Alienware, da Dell, voltados especificamente aos gamers.
Tecnicamente, os displays QD-OLED – que são uma combinação de leds orgânicos com película de pontos quânticos – se diferenciam por utilizar os chamados OLEDs azuis (Blue OLED), com a conversão de cores sendo feita pelos Quantum Dots. Com dimerização em nível de sub-pixel, esses aparelhos atingem gama de cores expandida, com ótimos ganhos em volume e luminosidade de cor (detalhes aqui).
No entanto, os materiais responsáveis pela emissão de luz azul ainda apresentam eficiência e durabilidade limitadas. A fabricante chinesa UDC (Universal Display Corporation) anunciou metas de especificação mais ambiciosas com o uso de placas RGB fosforescentes, que deverão estar disponíveis em 2024. O uso de azul fosforescente deve permitir a redução do número de camadas, aumentando a eficiência e a vida útil desses displays. Já em 2023 deveremos ver modelos de 77” no mercado.
OLED: preços e performance em alta
A tecnologia de leds orgânicos está atravessando um período de importantes desenvolvimentos tecnológicos para enfrentar seus diversos concorrentes. A tendência é que os preços subam, aumentando sua participação no faturamento dos fabricantes. Um de seus diferenciais nessa disputa é a grande variedade de aplicações que a tecnologia permite.
A mais comum atualmente é a chamada “OLED branca” (WOLED TV), que a LG vem usando – e aperfeiçoando – há cerca de dez anos. Seu avanço mais recente é o painel EX, que segundo a empresa coreana oferece luminosidade e durabilidade 30% maiores, além de reduzir a moldura da tela em 34%. A próxima geração de OLED EX terá estrutura interna de lentes microscópicas e tela sem moldura.
MicroLED continua em desenvolvimento
Considerada a única capaz de rivalizar com OLED em termos de performance, a tecnologia MicroLED vem progredindo de maneira sólida, embora ainda enfrente desafios industriais complexos, que ainda levarão tempo para serem superados. Seu sucesso dependerá da capacidade de escalar em volume com preços competitivos.
*A autora é presidente da Dash-Insights, consultoria americana especializada em análise do mercado internacional de displays. A íntegra do artigo pode ser lida em DisplayDaily.