Imagine uma casa que monitora em tempo real o bem-estar dos moradores e fornece dados personalizados sobre a saúde de cada um. Essa visão está rapidamente se tornando realidade, graças à convergência entre as tecnologias de Casa Inteligente (Smart Home) e as inovações no campo da saúde.
Como cresce a demanda da sociedade por soluções de saúde mais acessíveis, integrar os recursos smart da residência com sistemas de saúde passa a ser uma excelente oportunidade para revolucionar a forma como cuidamos de nossa saúde e bem-estar. Do monitoramento das horas de sono à detecção de quedas e ao rastreamento do uso de medicamentos, as casas inteligentes podem agora se transformar em “assistentes pessoais” proativos de saúde.
Mas, como isso tudo acontece na prática? Os componentes iniciais de um sistema de monitoramento de saúde numa casa são os sensores espalhados pelos ambientes. Eles se comunicam e trabalham em conjunto visando a coleta precisa dos dados, análises acuradas e efetiva comunicação com os provedores de soluções – no caso, médicos, enfermeiros, cuidadores, clínicas, hospitais etc.
Sensores e dispositivos
Os sensores, que podem estar no teto, nas paredes ou embutidos em diversos aparelhos (até mesmo aqueles que a pessoa carrega consigo quando sai de casa), atuam como “olhos e ouvidos” do sistema. Durante as 24 horas do dia, coletam dados valiosos sobre vários aspectos da saúde dos moradores.
Podem ser, por exemplo, sensores de temperatura, qualidade do ar, umidade e de possíveis substâncias perigosas. Ou sensores de movimento, que detectam os níveis de atividade na casa, acidentes domésticos e mudanças nas rotinas diárias, para enviar sinais de alerta ou mesmo ativar intervenções programadas.
Já os dispositivos vestíveis – como relógios inteligentes e rastreadores de exercícios físicos – se integram ao sistema para monitorar continuamente os sinais vitais dos usuários (batimentos cardíacos, pressão sanguínea e saturação de oxigênio), além de seus padrões de sono e níveis de atividade física.
E há as tecnologias mais avançadas, como as de reconhecimento facial e de voz, que podem fornecer informações sobre o estado emocional e o nível cognitivo de cada pessoa, permitindo uma abordagem mais ampla dos cuidados médicos, se for o caso.
Análise de dados
O verdadeiro poder desses sistemas está em sua capacidade de analisar a enorme quantidade de dados coletados pelos sensores. Já existem ferramentas de Inteligência Artificial e até soluções médicas do tipo LLM (a mesma categoria do ChatGPT) que se integram aos sistemas de monitoramento de saúde na residência. Elas podem ajudar muito a interpretar os dados, identificar tendências e anomalias em cada usuário.
Análises tão acuradas podem revelar sinais iniciais de uma doença, por exemplo, rastrear a progressão de outra e até prever crises potenciais. Além disso, os sistemas estão continuamente “aprendendo” sobre o estado de saúde de cada indivíduo. E têm capacidade de avaliar riscos e sugerir medidas preventivas. Como esse monitoramento contínuo, tanto médicos quanto cuidadores passam a ter uma visão mais ampla da saúde dos pacientes, facilitando diagnósticos mais precisos e planos de tratamento personalizados.
Conectividade segura
Um fator essencial para o êxito de qualquer sistema de monitoramento de saúde é a segurança da conexão entre os dispositivos, e sua interoperabilidade com os médicos, farmácias e mesmo laboratórios farmacêuticos. O sistema de comunicação deve ser rápido e confiável, incluindo até o uso de prontuários em PDF sobre cada paciente, que possam ser lidos via QR Code.
Isso garante que, numa emergência, os dados possam ser compartilhados entre os profissionais médicos para agilizar a tomada de decisões. Com esses cuidados, e usando protocolos de compartilhamento seguros, o monitoramento na Casa Inteligente pode detectar até alterações sutis no comportamento de uma pessoa, antes de surjam os primeiros sintomas. Um dos exemplos mais citados é a análise dos padrões de sono, que identifica interrupções na respiração que podem indicar uma doença respiratória.
Personalização total
Outra grande vantagem dos sistemas monitorados de saúde é que tudo pode ser personalizado e resolvido dentro da própria casa. É o caso dos ajustes de iluminação e temperatura baseados nas preferências e necessidades de cada usuário. Da mesma forma, assistentes de voz podem oferecer lembretes sobre rotinas de exercícios ou horários de medicação, que acabam se tornando um hábito saudável.
Nos EUA, já é usual se trabalhar com os chamados EMR (electronic medical record – aqui, alguns exemplos). São sistemas que armazenam dados coletados de cada paciente através de sensores e dispositivos móveis (wearables), e que podem ser consultados pelo próprio paciente a qualquer momento numa interface amigável. Assim, quando necessário ele mesmo pode tomar as providências adequadas.
Por ser um conjunto de procedimentos preventivos e pró-ativos, o monitoramento de saúde na Casa Inteligente tem potencial de reduzir significativamente as visitas a clínicas e hospitais, diminuindo portanto os custos envolvidos. Um estudo publicado pela Biblioteca Nacional de Medicina, dos EUA, revela como o monitoramento remoto de pacientes com doenças cardíacas crônicas fez decair a quantidade de retornos a hospitais.
Riscos e desafios
Embora sejam evidentes os benefícios do monitoramento baseado em Casas Inteligentes, sua adoção mais ampla requer estudos cuidadosos diante dos desafios e potenciais barreiras. Um deles está na própria característica de uma smart home: por utilizar coleta e análise de dados, essas instalações podem colocar em risco a privacidade e a segurança dos usuários.
É fundamental garantir a confidencialidade dos dados pessoais, particularmente aqueles mais sensíveis para a saúde dos moradores. Isso inclui histórico de doenças, alergias e dados relacionados, que nos EUA são protegidos pela Norma HIPAA (Health Insurance Portability and Accountability Act), que se tornou lei em 1996. Trata-se de um conjunto de regras que todas as empresas e órgãos de saúde devem obedecer, visando proteger os dados dos pacientes.
Os sistemas Smart Home devem, portanto, ser equipados com protocolos robustos de criptografia e controles estritos de acesso. Além disso, deve haver regras transparentes para dar aos indivíduos controle sobre seus dados pessoais. Uma boa alternativa é que criar, dentro da casa, uma rede segmentada para cuidados médicos. Pense numa rede em que essas informações trafegam junto com dados bancários: se um hacker tenta invadir a rede em busca de vantagem financeira, terá mais facilidade de roubar e fazer mau uso dos dados sobre a saúde do morador.
© TWICE
Adaptado de um artigo publicado originalmente no site Twice. Clique aqui para ver o original na íntegra