Quando Cory Burdette acordou e viu que uma nevasca havia causado atraso de 2 horas na escola, ele aproveitou para exercitar seus vínculos familiares. Sentando na frente da TV, Burdette e sua filha de 5 anos passaram a manhã juntos jogando Minecraft e jogos de aventura estilo Lego, onde os jogadores constroem prédios com blocos virtuais. “No Minecraft, conseguimos construir uma casa juntos, encontrar monstros e explorar”, diz ele.
Na primeira vez, Burdette teve que esperar o Minecraft baixar e instalar em seu Xbox. Mas quando sua filha tiver idade suficiente para jogos mais adultos, essa espera poderá ser coisa do passado. Grandes empresas como Microsoft e Verizon estão estudando como substituir os downloads de jogos por serviços baseados na internet, na esperança de fazer com os jogos o mesmo que Netflix e Spotify fizeram com a TV e a música.
Em vez de serem executados a partir de um dispositivo, jogos de alta qualidade no futuro poderão ser transmitidos de um data center. A maioria dos cálculos e renderizações de imagens será realizada por servidores poderosos a muitos quilômetros de distância, e dali enviados a smartphones, PCs e consoles.
A Netflix considera o game Fortnite
um concorrente mais forte que a HBO
Ao contrário das formas passivas de mídia, como filmes e música, jogar pela internet exige tecnologia altamente responsiva, que possa interpretar as ações dos jogadores, processá-las em milissegundos e transmitir os resultados instantaneamente.
O desafio tem sido um problema há anos para gamers e desenvolvedores de jogos. Mas, com os avanços no processamento, a adoção de banda larga de alta velocidade e os novos investimentos de gigantes de tecnologia, o que antes era um grande objetivo tecnológico e cultural para a indústria de jogos parece mais próximo do que nunca.
“Os serviços de streaming serão o principal impulsionador da rápida transição da venda de jogos em mídia física para o consumo digital”, declarou Yosuke Matsuda, presidente da empresa de games Square Enix. “O streaming também se presta a novos modelos de negócio baseados em assinatura”.
À medida que mais e mais consumidores recorrem ao entretenimento móvel e online, os executivos de mídia percebem que estão competindo pelo mesmo artigo (que diminui rapidamente): a atenção do consumidor. Até a Netflix reconheceu este mês que considera o Fortnite – jogo de maior sucesso atualmente – como um concorrente mais forte que a HBO.
Na guerra pela atenção do consumidor, os jogos baseados na nuvem representam dezenas de bilhões em lucros adicionais apenas para os editores de jogos, afirmam analistas. Além da conveniência de jogar em um servidor central, o que torna a ideia tão atraente é a capacidade de transformar até o mais simples laptop num aparelho para jogos.
Entre os bons títulos em jogos baseados na nuvem lançados recentemente, destaca-se o Project Stream, do Google, que encerrou um teste beta em janeiro, com testadores jogando online Assassin’s Creed Odyssey. O projeto xCloud, da Microsoft, foi pensado para permitir streaming de jogos via conexões de dados móveis. Também no mês passado, vazaram imagens da plataforma Verizon Gaming, da operadora americana.
A onda de interesse por jogos baseados na nuvem reflete a rapidez com que o cenário es mudou nos últimos anos. A popularidade dos jogos para celular leva editoras como a Epic Games, fabricante do Fortnite, a pensar na criação de seu próprio marketplace de apps para jogos – contornando as tradicionais de lojas de aplicativos, como o Google. Mas no projeto Stream, o Google pode contra-atacar: eliminando totalmente os downloads de apps.
Um dos gamers que participaram dos testes do Project Stream, Chris Cantrell disse que a Google conseguiu mostrar que seus servidores podem reproduzir fielmente os gráficos de alta fidelidade de um jogo Single-Player como Assassin’s Creed. Mas esse jogo não vem com um modo multijogador competitivo, um elemento básico da moderna cultura de jogos e que exige tráfego de dados muito intenso.
Segundo ele, as empresas de tecnologia ainda precisam lidar com a enorme quantidade de residências que transmitem e recebem vários serviços ao mesmo tempo. “Assassin’s Creed é um jogo mais lento e, portanto, não há necessidade de ser tão preciso. Mas você não pode jogar Call of Duty nessa conexão”, disse Cantrell.
*Link para o texto original: https://www.washingtonpost.com/technology/2019/01/28/netflix-video-games-why-longtime-dream-is-closer-than-ever-coming-true/?utm_term=.a61a7b2db7a6