por Robert Harley*Caixas acústicas são o componente mais importante em qualquer sistema de áudio ou home theater. Isso já é sabido. A qualidade final de seu sistema será sempre limitada pelo desempenho das caixas, ainda que você adquira os melhores players, amplificadores etc. Por isso, existe uma série de procedimentos recomendados a quem vai escolher um par de caixas (para salas de música) ou um conjunto para home theater, seja 5.1, 7.1 ou qualquer configuração de canais.
O primeiro passo é definir exatamente onde as caixas serão instaladas. A partir daí, determina-se o tamanho ideal das caixas para aquele ambiente. Claro, num apartamento pequeno as restrições são maiores do que numa casa com amplos espaços; e sempre é preciso levar em consideração os gostos do usuário e a estética que deseja em seu ambiente. Mas atenção: se você não tem espaço suficiente, deixe de lado desde já a ideia de escolher caixas do tipo torre.
Combinando caixas e amplificação
Uma caixa acústica deve ser escolhida de acordo com o sistema de amplificação que se tem, tanto do ponto de vista técnico quanto musical. Determinado modelo pode ter bom desempenho com um sistema, e não tão bom com outro. No aspecto técnico, é preciso haver interação da caixa com o receiver (ou amplificador); a potência deste terá resultados diferentes quando se troca de caixas.
Um item a ser checado de imediato é a sensibilidade da caixa – quanto de som ela produz com determinada potência. A sensibilidade, medida em dB, é calculada medindo-se o nível de pressão sonora (SPL) à potência de 1 watt com a caixa colocada a 1 metro de distância do microfone. A maioria das caixas situa-se na faixa entre 80 e 106dB, e esse é um fator determinado para sua performance.
Vejam este exemplo: para produzir SPL de 100dB, uma caixa de 80dB exige alimentação de 100W; uma caixa com 95dB exigiria apenas 3W (isso mesmo: 3 watts) para tocar no mesmo volume. Isso porque cada 3dB que se corta na sensibilidade requer o dobro da amplificação para atingir o mesmo nível de SPL.
Um erro comum é adquirir caixas de alto padrão quando se tem um sistema de amplificação pobre. Essas caixas trabalham com uma quantidade de informação muito maior, captando inclusive minúsculas imperfeições do sinal. O resultado será um som de má qualidade, que não justifica o investimento nas caixas.
Preferências e hábitos musicais
Se existisse uma caixa acústica perfeita, ela funcionaria igualmente na reprodução de música erudita e de heavy metal. Mas, como isso é um mito, as preferências musicais do usuário acabando sendo outro fator fundamental na escolha das caixas. Se você é fã de rock, prefira modelos com alta dinâmica e boa extensão de graves.
Só que não basta seguir as especificações. O que sempre recomendamos é que se procure ouvir antes os modelos desejados, com aquele tipo de música preferido. Isso, evidentemente, deve ser feito com um revendedor especializado, que tenha uma sala de demonstração apropriada. Não pense que isso é secundário: esse profissional, além de ajudá-lo a escolher, poderá se tornar sua fonte de informação mais tarde, quando for o momento de adquirir outros produtos eletrônicos.
Tamanho é uma ilusão
Ainda há quem acredite que quanto maior o tamanho da caixa, melhor seu desempenho. Mas, se formos levar em conta modelos na mesma faixa de preço, essa relação costuma ser exatamente o inverso. Uma boa caixa de duas vias (woofer de 6” e tweeter num gabinete pequeno) tende a ser bem melhor do que uma torre de 4 vias com o mesmo custo. Dois drivers de alta qualidade são amplamente superiores a quatro drivers medíocres.
Outro detalhe que muitos esquecem é que quanto maior o gabinete, mais difícil (e caro) é eliminar as vibrações que degradam o som. Uma caixa de quatro vias (tipicamente: tweeter, mid-range e dois woofers) exige crossover de maior extensão e com mais componentes. Frequentemente soa pior e, no entanto, a percepção de valor – pelo fato de ser maior e ter o mesmo preço – acaba induzindo o consumidor na direção errada.
Como fazer os testes
Em vez de comprar logo o primeiro conjunto de caixas que lhe agradou, convém ser prudente e considerar essa apenas sua primeira audição. Não tenha pressa. Mesmo que a caixa lhe pareça excelente, você não pode ter certeza antes de ouvir outros modelos.
Um critério interessante é tentar ouvir dois modelos determinados em sequência. Aquele que você escolher deverá ser comparado, numa outra ocasião, com um terceiro modelo. Não tente comparar mais de dois modelos na mesma audição. Nossos ouvidos não estão preparados para fazer a distinção entre tantas informações.
É aconselhável fazer as avaliações com o mesmo tipo de conteúdo, além de amplificação e fontes de sinal similares ao que você tem em casa. Mas, como o show-room nunca é igual ao ambiente doméstico, a melhor saída nessa hora é esquecer as características técnicas e pensar apenas no prazer que aquele conjunto de caixas lhe proporciona.
De quantos falantes eu preciso?
Uma caixa acústica pode ter 2, 3 ou 4 vias (two-way, three-way, four-way), identificando o número de alto-falantes utilizados. Teoricamente, cada falante é dedicado à reprodução de uma faixa de frequências: woofer para os graves (até aproximadamente 200Hz), mid-range para os médios (de 200 a 2.000Hz) e tweeter, que reproduz os agudos (sons acima de 2.000Hz).
Diz ainda a teoria que, numa caixa de 2 vias (habitualmente, um tweeter e um woofer, este cobrindo também a região dos médios), surgem interferências entre as frequências. Mas a prática mostra que isso nem sempre é verdade. Fosse assim, toda caixa de 4 vias teria desempenho superior.
Se você encontrar dois modelos diferentes com preço semelhante, um 2-way e outro 3-way, verifique: certamente a primeira caixa utiliza componentes internos de melhor qualidade. Por isso, não se deixe enganar. O que conta, mesmo, é o projeto da caixa, não o número de falantes.
A receita da potência
Ao contrário do que muitos pensam, caixas acústicas não costumam “estourar” devido ao excesso de potência. É mais fácil ocorrer o oposto: a caixa ser danificada porque está recebendo pouca potência do amplificador. Quando isso acontece, a pressão sonora se torna insatisfatória, e a tendência do ouvinte é aumentar o volume.
Nesses casos, podem acontecer duas coisas: ou o amplificador entra em sobrecarga e “clipa” (um sensor interno simplesmente desliga o equipamento), ou a caixa falha nos momentos críticos, quando há picos de potência. Para evitar esses riscos, o mais seguro é escolher caixas com potência recomendada próxima àquela liberada pelo amplificador.
E nunca é demais lembrar: alta potência não significa som de melhor qualidade. Apenas volume mais alto.
*Texto extraído do livro “The Complete Guide to Home Theater”, publicado originalmente em 1998 e atualizado em 2012 (c) ROBERT HARLEY