Em 2018, a Bowers & Wilkins anunciou a sexta geração da série 600, considerada uma das caixas acústicas mais acessíveis da marca inglesa e a que mais tempo permanece em produção (desde 1995), embora em constante renovação. Agora, a linha passa a ser formada por menos modelos, sendo uma torre (603), duas do tipo bookshelf (606 e 607) e uma central compacta (HTM6). Todas as caixas contam com novos materiais para os falantes de médias e altas frequências. No lugar do icônico kevlar amarelo, há mais de 40 anos aplicado ao cone de midbass de quase todas as B&W, a mudança estética mais radical é chamada de Continuum (veja o slideshow).
O QUE MUDOU
Continuum é um composto de materiais desenvolvido ao longo de oito anos originalmente para a série 800 D3 (top de linha). A B&W não divulga mais detalhes sobre essa composição de fibras, apenas que este cone proporciona ainda mais transparência e pureza sonora. Comum em linhas mais caras da B&W, o tweeter de domo duplo em alumínio desacoplado, para níveis ainda mais baixos de distorção e alcance de 28kHz dentro do eixo de referência (+/-3dB) – contra 22kHz da antiga série –, também é novidade nas novas caixas 600.
Diferentemente dos modelos torre e bookshelf anteriores, os novos apresentam duto de ar na parte traseira, o que não é ruim se a sala for espaçosa, principalmente se as 603 estiverem mais avançadas em relação à parede. Essas torres desempenharam graves mais redondos quando posicionamos a 30cm das paredes. Outro upgrade da nova 600 é a tela frontal magnética, que, ao ser removida, valoriza o aspecto “clean” do painel (baffle).
WOOFERS CHEGAM A 29Hz
O projeto de três vias das 603 inclui dois woofers de 6,5” com cone em papel – e não mais em alumínio –, sendo responsável por graves da ordem de 48Hz (±3dB) ou 29Hz (-6dB), teoricamente melhor se comparado aos 52Hz ou 30Hz da versão anterior. As frequências de atuação do crossover continuam as mesmas, 400Hz e 4kHz, assim como sua capacidade de aceitar amplificação de 200W.
Cada torre inclui spikes metálicos, pezinhos de borracha siliconada e base de madeira (de montagem opcional), que confere mais estabilidade ao gabinete. Além disso, pesa 24kg sozinha ou 31,7kg quando embalada; portanto, se quiser evitar lombalgia, recomendamos convidar um amigo para manusear as caixas e ajudar a instalar seus acessórios.
A HTM6, de tamanho equivalente à antiga HTM62 S2, trabalha com dois midbass Continuum de 5”. Essa central pode ser convenientemente acomodada em nicho abaixo da TV ou, por não ser muito espessa, dividir espaço com a tela no móvel. As bookshelf que recebemos como surrounds foram as simpáticas 606 com falantes Continuum de 6,5”, para respostas de baixos de 52Hz em (±3dB) e compatíveis com qualquer receiver de até 120W.
SUBWOOFER
Ao contrário das demais caixas 600, o subwoofer ASW610XP é um cubo compacto, com gabinete selado, que abriga driver de 10” com cone de papel misturado a fibra de aramida e um Classe D aprimorado (ICEpower) de 500W. Segundo a B&W, responde de forma plana a 25Hz (±3dB), mas com possibilidade de se estender a 18Hz, 23Hz e 28Hz (-6dB), de acordo com o ajuste de equalização escolhido pelo usuário, por meio de uma chave de três posições na parte traseira. No mesmo local, há botões de volume, crossover (40/140Hz), entradas de linha RCA, de caixas (bornes) e de corrente (12V). Spikes e pezinhos acompanham o sub. Todas as caixas possuem conexão para biamplificação (exceto o ASW610XP) e são oferecidas também na atraente cor branca; se quiser um acabamento especial, em laca brilhante, terá que desembolsar um pouco mais para adquirir a série 700.
AVALIAÇÃO
Ao instalar as novas B&W 600 pela primeira vez, era como se estivéssemos diante de um conjunto de outro fabricante. Mais elegante, o tom prata do novo cone se apresenta menos destoante no baffle e interage visualmente melhor com o tweeter de alumínio.
Antes de se tornar comum, o cone de kevlar no midbass das B&W representava um símbolo de sua identidade sonora, sobretudo, pela fidelidade e transparência nas médias frequências. A boa notícia para os fãs é que essa qualidade se mantém no Continuum.
Com Lovesong, de Adele (do álbum 21, arquivo FLAC), a voz da cantora britânica soou firme e clara, ao mesmo tempo em que os acordes minimalistas surgiam constantes ao fundo. Os médios novamente se destacaram em Respect, por Aretha Franklin com a Royal Philharmonic Orchestra (ALAC 96/24), e Going Home, de Leonard Cohen (Old Ideas, FLAC), contribuindo para a abertura tridimensional de palco.
Confira imagens da B&W 600 neste slideshow
Os álbuns Kind of Blue (FLAC), de Miles Davis, e The Prophet Speaks (FLAC 96/24), de Van Morrison, mostraram simbiose perfeita entre médios e agudos, de forma semelhante ao que ouvimos frequentemente com nossas torres de referência, as B&W CM10S2.
Trompete de alcance extenso, prato com agudos cristalinos, notas detalhadas de piano… tudo parecia estar em um tom correto, sem colorações, inclusive em níveis de volume mais altos. Foram cerca de 60 dias de audições, tanto com o amplificador Rotel de 200Wx2 quanto com o receiver 9.2 Yamaha, de 150W por canal.
Nesse período, percebemos que a performance dos woofers evoluía a cada dia, mas exigia mais ganho de potência para produzir pressão sonora do que as antigas 683. No início, ouvíamos os graves de Lorde (Pure Heroine, ALAC 96/24) e Talking Heads (Burning Down the House, FLAC) descerem menos que os da 683 anteriormente instaladas no mesmo local da sala. E antes de um julgamento em última instância, fizemos as 603 passarem por um burn-in de aproximadamente 180 horas, e o resultado logo surgiu como esperávamos.
Deixamos para trás os graves retumbantes produzidos pela 683, para nos concentrar em frequências mais pontuais, ágeis e equilibradas. Da eletrônica profunda de Royals (Lorde) à bateria excitante de Burning Down the House (Talking Heads), os baixos pulsaram com um timing forte e preciso.
Já com o sistema em 5.1, foi empolgante se sentir dentro do show The Eagles Farewell 1 Tour – Live From Melbourne (Blu-Ray, DTS-HDMA). Ao trazer uma ampla ambiência da plateia e reproduzir com desenvoltura tímbrica parte dos instrumentos, acredite, as bookshelf 606 por vezes chegaram próximo do protagonismo das frontais.
Até pela robustez das 603, é natural que a HTM6, em muitos momentos, “desapareça” durante uma carga sonora mais intensa. Não foi o caso em nossa sala de 20m2, mas se fosse maior certamente esse conjunto exigiria uma central de três vias, ou de maior capacidade de potência e resposta de graves, como a própria B&W oferecia na antiga linha 600 e hoje mantém nas séries 700 e 800.
De qualquer forma, ficamos satisfeitos com a clareza e volume nos diálogos de Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (Blu-ray, D.TrueHD) e Operação Fronteira (Netflix, DD+). O subwoofer preencheu bem nosso espaço, porém não de maneira tão fácil como o ASW10CM S2 que mantínhamos em nossa sala.
Mesmo com o botão de volume na metade do seu curso, o ASW610XP trouxe graves controlados durante o show musical, sem distorção audível, além de notável profundidade nos efeitos mais impactantes dos filmes.